A questão central que motivou esta pesquisa foi: vale a pena investir no mercado brasileiro de streaming? Para responder a essa pergunta, procuramos entender profundamente o mercado de audiovisual no Brasil, o perfil dos consumidores, suas preferências, comportamentos de consumo e os principais fatores que influenciam a escolha de uma plataforma de streaming. Nossa análise também se expandiu para examinar as características das plataformas de streaming e a dinâmica do conteúdo disponível, como tipos de obras, participação de produções nacionais e estrangeiras, e outros aspectos que podem influenciar a decisão de investimento no setor.
O Brasil é um dos líderes mundiais em adoção de serviços de streaming, com 65% dos adultos brasileiros assinando pelo menos uma plataforma, um número superior à média global de 56%. Em 2023, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) divulgou a segunda edição do estudo Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil, que revelou que o país conta com 62 plataformas de streaming, sendo 43 delas por assinatura, 33 gratuitas e 14 operando no modelo transacional. O mercado brasileiro oferece mais de 60 mil títulos únicos disponíveis por assinatura, o que reflete a grande diversidade e competitividade do setor.
Entre as plataformas por assinatura, a Claro TV+ lidera o número de títulos ofertados, com mais de 10.236 obras, seguida pela Netflix (6.700 títulos) e Amazon Prime Video (6.400 títulos). A plataforma nacional Looke ocupa a quarta posição, com 5.200 títulos. No entanto, uma parcela significativa das plataformas, cerca de 27 delas, oferece catálogos com menos de mil títulos.
A predominância de filmes em relação a séries é um dado importante, com obras não seriadas representando cerca de 80% do total de títulos ofertados nas plataformas. Entretanto, plataformas com catálogos mais focados em séries, como o Globoplay, têm uma diferença significativa no tempo total de horas de conteúdo, já que séries, que são mais longas, ocupam uma maior parte de seu catálogo.
As plataformas de streaming no Brasil, de maneira geral, apostam fortemente em conteúdos novos, com muitos filmes lançados nos últimos 10 anos dominando o mercado. Em relação ao conteúdo nacional versus internacional, 86% dos títulos disponíveis são estrangeiros, com apenas 14% de conteúdo brasileiro. No entanto, essa proporção varia consideravelmente entre as plataformas. Por exemplo, a Globoplay se destaca por oferecer cerca de 1.200 títulos brasileiros, representando uma parte significativa de seu catálogo. Em contraste, a Disney+ tem apenas 19 títulos nacionais em seu portfólio.
No que diz respeito aos gêneros, os brasileiros demonstram uma forte preferência por ficção (47%) e documentários (37%). Isso reflete a crescente demanda por conteúdos diversificados e que conectem com a cultura local, sem deixar de lado o apelo de grandes produções internacionais.
A consultoria Serasa Experian, em 2024, indicou que o público consumidor de streaming no Brasil é majoritariamente composto por adultos entre 34 e 53 anos, com uma distribuição quase equilibrada entre os gêneros masculino e feminino. Esse grupo representa mais de 50% dos assinantes. A maior parte dos consumidores de streaming se encontra na faixa de renda entre R$ 2.500 e R$ 5.000 mensais, com 70,5% pertencendo à classe AB.
Com relação ao tempo de consumo, 49% dos brasileiros assistem entre duas a quatro horas de conteúdo por dia, refletindo um comportamento crescente de consumo contínuo de conteúdo. Além disso, os gastos com serviços de streaming já estão incorporados ao orçamento mensal das famílias brasileiras, com a maioria dos consumidores considerando esses serviços parte de suas despesas fixas.
A ascensão do streaming no Brasil também é acompanhada de uma mudança cultural significativa: os consumidores estão cada vez mais valorizando a conveniência e a personalização no consumo de conteúdo. O desejo de estar atualizado com as últimas produções e participar das discussões sobre as séries populares tem impulsionado a demanda, especialmente por conteúdos que gerem conversas e o fear of missing out (FOMO), fenômeno que se refere ao medo de estar perdendo algo importante.
O Brasil possui várias plataformas de streaming competindo no mercado, com cinco grandes players dominando a audiência: Amazon Prime Video, Disney+, Globoplay, HBO Max (atualmente Max) e Netflix. Além dessas, plataformas como Apple TV+ e Telecine também buscam conquistar seu espaço, cada uma com seu diferencial único.
O Brasil apresenta uma grande oportunidade para o crescimento do conteúdo nacional nas plataformas de streaming. A representatividade da cultura local ainda é um desafio, mas também uma janela para os investidores que desejam capturar a demanda reprimida por produções brasileiras de alta qualidade. As plataformas que conseguirem alavancar e promover mais conteúdo nacional de relevância cultural têm o potencial de conquistar uma audiência fiel e crescente.
Além disso, o preço e o custo-benefício continuam a ser fatores cruciais na escolha das plataformas pelos consumidores. Os brasileiros buscam diversificação, acessibilidade e, sobretudo, relevância cultural em suas opções de entretenimento.
O mercado de streaming no Brasil é robusto e em constante expansão, com um público crescente que valoriza tanto as produções internacionais quanto as nacionais de qualidade. As plataformas têm se adaptado rapidamente à demanda por novos conteúdos, mas o desafio permanece na ampliação da oferta de produções locais para refletir a diversidade cultural do país. Para investidores, o setor oferece oportunidades significativas, especialmente para aqueles que conseguirem equilibrar o apelo internacional com um foco na cultura local, atendendo às expectativas dos consumidores brasileiros por conteúdo relevante e acessível.
Fontes:
WGSN – As estratégias dos streamings para engajar e reter assinantes, 2024
Ancine – Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil, 2023
Gente Globo – O Brasil e o Audiovisual, 2024
Serasa Experian – Pesquisa da Serasa Experian revela perfil de consumidores de streaming Brasil, 2024
Canal Tech – Quanto custa assinar todos os streamings no Brasil?, 2024
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